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Sequência de mortes trágicas acende alerta na BR-282, segunda rodovia mais letal em SC

 


Airton, Helena e Luyz viraram estatística. Eles eram, respectivamente, um pai de três filhos; uma mãe e avó de uma criança de cinco anos; e o filho do meio de uma família numerosa. Os três não se conheciam, mas tiveram um ponto trágico em comum: morreram na BR-282. O intervalo tão curto entre os acidentes que vitimaram o trio chamou atenção e colocou holofotes sobre a segunda rodovia federal mais letal em SC em 2021.

Airton, vocalista da Garotos de Ouro, faleceu na primeira hora do dia 13 de setembro. Helena e Luyz faleceram no mesmo dia 15 deste mês, após os carros em que estavam colidirem.

 

O trio está entre os oito mortos na BR-282 em um período de quatro dias, de 12 a 15 deste mês. Na rodovia de mais de 660 quilômetros, foram registradas 68 mortes de janeiro até o dia 19 de setembro de 2021, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). No levantamento, a estrada ocupa a segunda posição no ranking trágico. A primeira colocada é a BR-101, que registrou no mesmo período 92 óbitos.

A BR-470, que em SC percorre de Navegantes até Campos Novos, está na terceira posição com 43 mortes. Já a BR-280 registrou 23 óbitos. Apenas a BR-158 não registrou acidentes com mortes neste ano (veja lista abaixo).

 

Especialistas apontam a imprudência e a falta de investimentos como prejudiciais para a segurança da BR-282, que liga Florianópolis a São Miguel do Oeste.

 

Oito mortes em quatro dias

Entre os dias 12 e 15 de setembro, oito pessoas morreram em acidentes na BR-282. No dia 12, Camila Augusto da Silva, 30 anos, e os dois filhos dela - uma menina de 11 e um adolescente de 13 anos - foram encontrados sem vida pelos socorristas após o carro em que estavam colidir contra um micro-ônibus de um time de vôlei. O acidente aconteceu em Lages.

Um dia depois, 13 de setembro, o cantor e fundador da banda Garotos de Ouro também morreu em um acidente na rodovia. Airton Machado, 62 anos, dirigia o ônibus do grupo quando colidiu contra um barranco, no trecho da BR-282 que corta Águas Mornas.

 

No dia 15, Helena Paris, 69 anos, a filha Roselei Paris, 48 anos, e a neta Hemilly, cinco anos, morreram após o carro onde estavam colidir com outro veículo. A tragédia teve ainda uma quarta vítima: Luyz Camargo de 26 anos, natural de Ponte Serrada, no Oeste, também morreu.

O último fim de semana também foi violento na rodovia federal. Segundo a PRF, entre sábado (18) e domingo (19), três pessoas morreram na BR-282.

 

O primeiro acidente ocorreu no sábado, no km 543 da rodovia em Chapecó. O motorista de um carro, com placas do Paraná, bateu de frente em outro veículo por volta das 18h15. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu no local.

Cerca de 30 minutos depois, às 18h45, uma motociclista morreu após também bater de frente com um carro no km 609, em Maravilha, no Oeste de Santa Catarina.

 

Já o último acidente deste fim de semana ocorreu no domingo. O motorista de um carro, com placas de Nova Erechim, não resistiu aos ferimentos ao capotar o veículo no km 564 da BR-282, em Pinhalzinho, também no Oeste.

 

Rodovias federais de SC com mais mortes em acidentes em 2021

•​BR-101: 92

•​BR-282: 68

•​BR-470: 43

•​BR-280: 23

•​BR-116: 12

•​BR-153: 5

•​BR-163: 1

•​BR-480: 1

•​BR-158: 0

Fonte: Polícia Rodoviária Federal, com dados até 19 de setembro

 

Principal causa de acidentes é humana, diz PRF

Por ser uma das principais rodovias do Estado, diariamente, milhares de veículos cruzam a BR-282. Para o chefe do Núcleo de Comunicação Social da PRF, Adriano Fiamoncini, devido à extensão da via, é "normal" que ela tenha uma grande quantidade de acidentes.

Porém, ele enfatiza que a culpa das mortes não é da rodovia, mas sim da imprudência dos motoristas que passam diariamente por ela.

 

— A rodovia nunca matou ninguém e nunca vai matar. Quem mata são os motoristas que passam por ela. Claro, poderia haver mais terceiras faixas em alguns pontos de Serra, para os veículos pesados de carga liberarem espaço aos veículos mais leves. Ela precisa ter mais investimento, mas a principal causa é humana — pontua.

Para o especialista em trânsito e transporte, Fábio Campos, o comportamento do motorista é importante para garantir a segurança da via. Ele relembra que a BR-282 é uma rodovia que conta com condições diferentes a cada trecho e, por isso, o cuidado é fundamental.

 

— É uma via em que o motorista precisa ter muita prudência. Tem trechos em que vai haver serração, outros, curvas acentuadas. Por isso, é importante que em toda a viagem ele tenha um comportamento adequado para evitar as tragédias — salienta.

 

Duplicação ainda não é realidade

Mesmo com os altos números de acidentes e a importância da rodovia para o Estado, ainda não há planos de quando a BR-282 deve ser duplicada. O trecho, inclusive, não consta entre as vias que vão receber do Estado investimentos de R$ 465 milhões para obras nas estradas federais. Apesar da ação do governo de SC, melhorias em BRs são de responsabilidade  do governo federal.

O dinheiro, que já teve aprovação da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), será aplicado em melhorias na BR-470 (R$ 300 milhões), BR-163 (R$ 100 milhões), BR-280 (R$ 50 milhões) e BR-285 (R$ 15 milhões).

 

Mas, a sucessão de acidentes dos últimos dias fez com que o líder do MDB na Alesc, Valdir Cobalchini, propusesse a criação de uma frente parlamentar a favor da rodovia. O objetivo é viabilizar soluções rápidas para a BR-282.

Além disso, em junho deste ano, a Federação das Indústrias do Estado (Fiesc) lançou o projeto BR-282 + Segura e Eficiente. A sugestão era implantar 69 quilômetros de faixas adicionais entre o litoral e Lages. A estimativa é de que a obra custasse R$ 192,9 milhões.

 

Para o especialista em trânsito e transporte, Fábio Campos, a duplicação da rodovia é fundamental para diminuir o risco de acidentes. Ele explica, por exemplo, a situação da BR-470, onde, nos trechos em que houve a duplicação, já há redução no número de mortes.

  

— Nós tínhamos um trecho da BR-470, ali em Navegantes, que aliviou o número de acidentes por conta da duplicação. Uma rodovia duplicada se torna mais segura, ainda mais com uma malha viária como a nossa. Enquanto isso não ocorre, há um problema — reforça.

 

O especialista também alerta para a necessidade de aumentar as fiscalizações nas estradas, além de políticas públicas que ajudem a tornar o trânsito um lugar mais seguro nas rodovias catarinenses.



 

— Infelizmente, morrem pessoas [nas rodovias] e são mortes violentas. Uma já é suficiente para causar um impacto. Por isso, temos que cobrar e achar uma saída para diminuir esse índice — finaliza.


Fonte: Diário Catarinense



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